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"NA FLORESTA APRENDI A DESPERTAR MEU CORPO ENTRE AS SOMBRAS; 

APRENDI A COLOCÁ-LO À PROVA DAQUILO QUE ENTENDO SER MAIS PRÓXIMO DE MIM MESMA."

A chegada a Porto Velho/Rondônia naquele 08/09 de fevereiro de 2010 trazia a tona algumas dificuldades com que eu teria que lidar. Na imaginação era evidente a falta de perspectiva, figurada pela sensação de 'exílio', no entanto, o que não havia notado é que na mala eu trazia solidão, incompreensão do tempo, baixa-autoestima, excessos ocultados de raiva, sentimentos de auto-piedade, e destrutíveis ilusões/padrões, que finalmente tornaram-se visíveis no novo lugar.

 

O encontro com o "mundo das quebras" e das possibilidades que é viver dentro de um contexto de floresta(s), que também se revelava negra, me orientou a lugares 'exatos' onde me (re)conheci em pessoas e semblantes, costumes e Cor.

 

Ser a princípio (re)conhecida como num corpo 'barbadiano' foi essa "quebra". Hoje percebo que era um movimento natural da cidade: receber. No meu caso, muito bem. Demorei a notar. Mas foram repetidas vezes que a pergunta "você é barbadiana?" surgia. Um dia questionei e a resposta me tocou: "famílias tradicionais negras". Senti pela primeira vez um vento de dignidade e foi dentro de Rondônia.  

 

O presídio foi o primeiro grande encontro comigo mesma. Ali percebi o quanto era presa dentro de mim. Aliás, quantas prisões construímos dentro da cabeça. Fui percebendo tudo isso dentro do teatro de Marcelo Felice e dos homens do sistema prisional 'fechado'. E da maneira mais inimaginável, num palco. O espetáculo era a vida daqueles homens; e da  perspectiva deles. Ouví-los tornou a potência para minhas silenciadas vozes. Pela primeira vez (re)conhecia a história de uma criança ferida. Dali descobri a minha. Tão ferida quanto aquelas que eram expostas pelos próprios protagonistas, em "O Topo do Mundo", em 2013, naquele período, homens reclusos, mas muito mais livres do que eu.   

A câmera me norteou até as portas de uma Marcela mais real, "aquela impossível". Foi de onde finalmente enxerguei o caminho da militância pela dignidade e pela visibilidade da minha própria imagem; o teatro me possibilitou acessar a potência de um 'sobrecorpo' que existe dentro de nós e além de nós, permitindo ressignificar os desconfortos internos em potências  inúmeras; já a música me apresenta outra forma de Contato com a minha imagem transformando as marcas do meu corpo em marcas que eu me veja.  

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